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sexta-feira, 20 de março de 2009

Novas regras da F-1

Nesta temporada, algumas regras serão diferentes. O campeão, por exemplo, não será mais aquele que somar o maior número de pontos, e sim, de vitórias. A pontuação será mero critério de desempate.

E se alguém vencer os cinco primeiros GPs? São grandes a sua chance de ser campeão. Seis, então, é praticamente certo, afinal, são 17 ao todo. Hamilton teve cinco vitórias ano passado. Massa, seis. E Hamilton foi campeão. Só que número de vitórias implica necessariamente em ter ido bem na temporada?

Não.

Número de pontos, sim.

Hamilton pode ter tido menos número de vitórias. Venceu pois mostrou maior regularidade durante a temporada, ou seja, pontuou mais. A diferença foi de apenas um ponto, tirada de Massa nos segundos finais da última corrida.

Só que não foi só isso. Se Massa tivesse sido mais regular - e tivesse tido mais sorte - teria sido campeão. TERIA.

Vejam por exemplo o Campeonato Brasileiro. O São Paulo foi campeão nos últimos três anos. Exceto ano passado, sagrou-se campeão com razoável antecedência. Sim, obteve maior número de vitórias. A regularidade também foi maior. O restante da tabela, entretanto, não refletiu o mesmo. Vejam ano passado, por exemplo, quando o Vitória venceu 15 vezes e ficou atrás de Goiás e Coritiba, que venceram uma partida a menos. Estes dois últimos tiveram 13 derrotas e 11 empates, enquanto que o Vitória teve 7 e 16, respectivamente. E este cenário se repete todos os anos, em todas as divisões.

No Campeonato Brasileiro, o número de vitórias é apenas um critério de desempate. Grêmio e Flamengo abriram, em 2008, muitos pontos em relação aos demais colocados. Faltando algumas rodadas para o término, até mesmo os são-paulinos mais fervorosos acreditavam desacreditando na virada do time do Morumbi, que ainda lutava para se manter G-4. O São Paulo manteve um ritmo bom, enquanto os outros, não. E foi chegando aos poucos, até ser campeão, com apenas 3 pontos de vantagem. Uma vitória e uns gols a mais e o Grêmio teria sido campeão. TERIA.

Somar maior número vitórias, ser mais regular. Para quem não sabe, no futebol uma vitória implica na soma de 3 pontos. Um empate, um. Quem perde não soma pontos. Na F-1, até ano passado, o campeão somava 10 pontos, o segundo, 8, o terceiro, 6, e os seguintes um ponto a menos que o terceiro, até chegar ao oitavo, que somava 1. Este ano, queriam dar 12 ao primeiro, 9 para o segundo, 7 para o terceiro... Mas vai continuar como antes. De que adianta ter um monte de vitórias e não pontuar sempre, ser irregular?

Em relaçao a alguns outros pontos, as novas regras tornam o campeonato até mais competitivo e atrativo para o público. Os pilotos farão sessões de autógrafos, ficarão mais acessíveis para dar entrevistas, por exemplo. O lance do teto orçamentário é uma boa. Mas não é obrigatório.

Diz-se que as mudanças (que não foram apenas estas) foram elaboradas após pesquisas realizadas com fãs e simpatizantes. Estes mesmos fãs fizeram uma petição online para mudar mudar o critério do campeão. Até agora há 14.615 assinaturas (a meta é chegar às 30.000).

O novo critério teria mudado o resultado de muitos campeonatos. Senna, com 16 pontos a menos, teria sido campeão em 1989, com 6 vitórias contra 4 de Prost. O campeão também teria sido diferente em muitas outras temporadas. Muitos pilotos que terminaram em TERCEIRO LUGAR teriam sido CAMPEÕES. Que graça tem isso?

E mais uma vez uma analogia ao futebol, um craque só é craque quando é craque sempre, e não porque brilha em alguns momentos. Os momentos de destaque são como as vitórias do piloto. Os baixos, são as etapas em que o piloto não pontua. O piloto deve brilhar sempre, e se isso acontecer, ele certamente terá o maior número de pontos. E mesmo que não vença sempre, campeão é aquele que está sempre no topo, mesmo que não seja o mais brilhante. E pensando bem, o bom piloto nem é como o craque. Aproxima-se mais do bom jogador, aquele que pode não brilhar, pode não ser o grande destaque do time, mas ajuda, está sempre lá, fazendo o seu papel, com boas jogadas e mantendo a regularidade, diferentemente dos craques, que muitas vezes são individualistas e só querem aparecer, prejudicando o coletivo.

E vc, o que acha das novas regras?

quinta-feira, 5 de março de 2009

Gilberto Dimenstein, "Mentes do futuro"

Começa nesta semana, em São Paulo, o festival internacional de filmes com apenas um minuto de duração, reunindo 80 países -esse tipo de mostra ocorre anualmente em 40 nações, circula em escala planetária e atrai o patrocínio de empresas multinacionais. Pouca gente sabe que esse festival é uma invenção brasileira e ninguém imagina que seu inventor era visto, por muito tempo, como um fracasso, um caso irrecuperável.

Marcelo Masagão estava desempregado, em 1991, quando conseguiu passar filmes de um minuto num teatro da PUC, em SP; no ano seguinte, iria para o MIS (Museu da Imagem e do Som). Um italiano viu aquela experiência e a levou para a Europa, de onde se disseminou.

Como era excessivamente bagunceiro, foi expulso -ou, como se diz, convidado a se retirar- das escolas em que estudou. “Nunca tive uma turma de formatura”, lembra. Não conseguiu ficar nem mesmo no Colégio Equipe, uma ilha de liberalidade paulistana. Na faculdade, cursou psicologia, mas, após sete anos, não tinha completado 40% dos créditos.

Só resolveu mesmo se esforçar na oitava série porque seu pai o chamou de “burro e vagabundo”. Tirou notas altas, a maioria dez, nas matérias. Mas no final se desentendeu com um professor e, mais uma vez, recebeu o convite para se retirar. Como ele conseguiu montar um projeto bem-sucedido? A resposta possivelmente está nos estudos sobre as diversas formas de inteligência desenvolvidos em Harvard -é uma das questões essenciais para os alunos que, nesta semana, voltam para seus colégios e universidades.

Disseminador da ideia de que existem inteligências múltiplas (a escola só focaria numa delas), o psicólogo Howard Gardner afirma que um dos atributos fundamentais para prosperar profissionalmente é a “mente sintetizadora”. Com o excesso atordoante de informação, graças em boa parte à abundância de fontes na internet, passa a valer mais quem sabe extrair o que é essencial -ou seja, quem sabe selecionar e apontar um caminho.

O primeiro filme de Masagão era um esforço de resumir e encadear em 70 minutos toda a história do século 20 -e sem nenhuma fala, apenas com imagens. Depois de tanto tempo de dispersão, acabou encontrando a síntese de seu futuro na busca de gente que procura uma síntese em apenas um minuto, transformada também num projeto de internet, e não apenas nos festivais.

Agora, ele criou a modalidade de obra em dez segundos, batizada de “nanofilme”.

Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade da seleção será cada vez mais demandada -o que vai abater parte do encanto da produção coletiva de conhecimento (o jornalismo colaborativo, por exemplo), na qual muitos sentem autoridade para falar de qualquer assunto. Afinal, a síntese depende de um longo processo de avaliação do que é essencial.

Mais uma vez, o Festival do Minuto serve como exemplo. Tecnicamente, qualquer um hoje pode se sentir um cineasta. Basta um celular. São enviados para lá milhares de filmes, sem qualquer esforço de produção. O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, tentou fazer uma emissora de TV, via internet, para a qual qualquer um pudesse mandar sua matéria. Viram-se obrigados a mudar o formato. Um claro sinal dessa tendência apareceu no projeto “Círculo de Leitores”, desenvolvido pela Folha, em que, durante oito meses, o jornal ouviu seus assinantes em São Paulo, Rio e Brasília. Eles querem uma publicação com os seguintes atributos: analítico, sintético, prático e interpretativo. Em síntese: querem ter ajuda para selecionar o que importa para suas vidas.

É fácil entender as razões dessa demanda; difícil é enfrentá-las. Como reduzir tantas coisas, muitas delas complexas, em tão poucos minutos de leitura diária? Como captar a atenção de um público cada vez mais hiperativo? Não é um problema, óbvio, apenas dos meios de comunicação. É um desafio que envolve toda a rede de produção e disseminação do conhecimento.

Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, nas escolas, a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias, sem muita conexão com a realidade, avaliadas em provas -e depois, rapidamente, esquecidas. Os estudantes voltam, nesta semana, às aulas e vão encontrar um sistema curricular que, na maioria dos casos, está fracassado, determinado não por pedagogos, mas pelo mercado de trabalho. Está aí uma das razões por que foi muito mais fácil para Marcelo Masagão fazer sucesso na vida do que na escola. Só não sabia que iria virar uma espécie de professor na arte de sintetizar.

PS - Coloquei neste link um texto para quem quiser conhecer melhor as ideias de Howard Gardner, professor da escola de Educação em Harvard. Também coloquei neste link uma seleção dos filmes de um minuto que serão exibidos, nesta semana, no festival em São Paulo.


Para pensar, hein... Li há uns dias e não consegui tirar da cabeça.